segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Invocação a uma Ruralidade

Este blog "currodavila" pretende ser um espaço de reflexão antropológica sobre os "espaços e as identidades numa ruralidade difusa, deslocalizada", típicas de um tempo e de um modo, onde a globalização se torna cada vez mais uma realidade, que afecta e influencia os espaços locais de matriz rural ou ruralizante.  Este conceito/termo de ruralidade, aplicado a um tempo excessivamente globalizado e para alguns já glocalizado, transformou-se num espaço onde as matrizes originais, próprias de um espaço rural, fechado, auto-suficiente, independente na forma e no verbo, já não fazem parte da nossa realidade pós-contemporânea.


Esta nossa visita ao "Espaço Rural",  ou ao que dele ainda resiste, ao fim de algumas décadas após a publicação da nossa revista "RURALIA"(1987-1995), é uma forma de repensar todo o espaço rural, a partir de um enquadramento epistemológico diferente e perante um paradigma ou modelo em transformação. Sem descurar a actualidade, os seus problemas, que também estiveram na origem do aparecimento desta revista transversal e pós-moderna ao estudo da ruralidade, de forma a compreender para transformar.


Vamos também editar alguns textos que já foram publicados em revistas e livros da nossa autoria, sobre a ruralidade, mais propriamente sobre os temas do espaço, da sociedade, dos poderes, do ordenamento do território, do património e do ambiente. Alguns, serão resumos de conferencias realizadas em congressos, seminários, e jornadas de âmbito cientifico em Portugal e no Estrangeiro.Outros serão resumos das minhas aulas de seminários em Cursos de Pós-Graduação em Universidades Portuguesas e Estrangeiras.


O nosso motivo prende-se com a actual situação de crise económica e financeira que o nosso país vive, a qual não deixara de ter repercussões nas mentalidades e na psicologia colectiva do povo português em geral e no espaço rural em particular. Perante, uma nova onda de pessimismo, de desalento, de abandono destas terras fundas e suculentas em património, em memória e cultura.


Dá-me a entender, que o espaço rural passa por uma profunda crise social, económica que se repercute em todas as estruturas que estruturam a pequena e frágil sociedade rural, localizada e globalizada. Sem duvida, um espaço que sofre as consequências de uma globalização selvagem no modo e na a acção, mas da qual pouco ou muito pouco tem recebido.

O envelhecimento da população, a migração das populações mais jovens, a deslocalização de vários equipamentos (sociais, educativos, económicos, etc.), o empobrecimento da estrutura ambiental e territorial, com uma perda acentuada da biodiversidade, da paisagem, e das memórias de matriz local. Fundamentais a um desenvolvimento sustentado ou sustentável, fundamental para a qualidade de vida e para a coesão social, numa perspectiva inter-geracional.

Que registos, que fenómenos de resistência ainda se podem observar num espaço cada vez mais difuso, subjectivo, polissémico no verbo e substantivo na forma. Contaminado por um conjunto diversificado de fenómenos globalizados e estranhos, que conflituam com a natureza do espaço rural, ou daquilo que ainda vai resistindo.

As culturas tradicionais estão contaminadas por toques de pseudo-modernidade, alteradas na sua função e no seu ethos, agoniam perante um tempo rápido e efémero. Homens, mulheres, velhos e crianças perdidos nesta grande galáxia de consumo, trocam a sua alma pelo cintilante dos bronzes da Europa. Renegando a sua existência, e partilhando um universo de próteses consumistas. O conhecimento, a ciência, a criatividade, a inovação, a tecnologia não fazem parte deste mundo rural que se queria contemporâneo e cosmopolita.   

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