Participar
num encontro sobre Arquitetura e Turismo, e trazer à colação uma reflexão sobre
Património, Identidade e Diferença, numa perspetiva da antropologia social e do
espaço é em dúvida um desafio e uma provocação estética, programática e
epistemológica sobre a forma como entendemos a programação e a conceptualização
da atividade turística no espaço local.
Património, Identidade e Diferença
aparecem-nos como conceitos operativos da intervenção e da programação
turística em contextos locais. Uma espécie de ideologia cultural ao serviço de
uma patrimonilalização do edificado e das suas estruturas sociais, culturais e
etnográficas. Em função de uma fabricação estética dominada pela ideologia do
autêntico e do singular. Um singular único e patrimonializado que patrocine uma
valorização do lugar e das suas potencialidades comerciais.
O património é assim um produto e um bem
integrado numa lógica de mercado que se pretende explorar e comercializar, isto
é, disponibilizar de forma segura, atrativa e interativa ao turista.
Estamos
na presença de um conceito de turismo rural que procura na diferenciação e na
singularidade das manifestações da cultura material de matriz local, um nicho
económico amigo do ambiente e do património. Um turismo que se quer de
proximidade, de pequena escala e sustentável na forma e no conceito. Em
oposição a um turismo global e de massas, integrado em redes globalizantes, de
grande escala que não que serve os interesses locais daqueles que vivendo e
trabalhando no mundo local são quase sempre excluídos deste segmento económico
– a que damos o nome de atividade turística industrial.
A
programação turística em nichos de pequena escala, deve ser desenvolvida e
estruturada de forma a evitar impactes negativos no ecossistema, na economia
local, na transação dos bens materiais, essencialmente evitando os custos
negativos que tem sobre a especulação dos solos e respectivo edificado.
Esta
forma de ver, de olhar para o lugar traduz-se numa leitura antropológica dos
mesmos, dando-nos a ideia de que os lugares e os espaços estão repletos de
significado. Se por um lado o lugar é um espaço onde se desenrola toda a
atividade do ator social; por outro lado, o lugar é aquela estrutura
significante ao serviço de uma construção cultural do património. Cenários e
jogos interativos que possibilitam a criação do produto turístico integrado nas
suas próprias relações de mercado. O património é assim integrado num sistema
de trocas de bens, de serviços e experiências, não só para os turistas mas
também para as comunidades que os recebem. Este processo de dar, de trocar e de
receber é muito complexo e pode implicar riscos e perdas, por exemplo, a
criação de produtos locais tradicionais para lembranças, ou de festivais,
assim, como a natureza que pode ser encarcerada ou transformada tendo em conta
os interesses da produção e do consumo turístico endógenos.
Hoje,
a atividade turística aproxima-se cada vez mais daquela feliz expressão que
Urry (1990) utilizava para classificar o turismo da experiencia do olhar, isto
é, a ideia do «olhar turístico atento»
para demonstrar o contexto mais amplo das relações sociais que dão forma à
produção e ao consumo da experiencia turística (Debbace; Ioannides, 2007).
Em termos da programação e da conceptualização
turística em contextos locais, pensamos que é necessário um olhar critico e
amigo do ambiente e do património, de forma a valorizar os contextos, as
memórias e as formas dos lugares. Evitando destruições gratuitas, vandalismos
criteriosos e justificados pela tecnicidade do conhecimento híper-racionalista
ao serviço das modas efémeras e dos mercados selvagens. Evitando as construções
ex novas, deslocalizadas, com escalas que esmagam os lugares e criam situações
de grande conflitualidade estética, formal e ambiental. Consequentemente,
deparamo-nos com uma perda de qualidade social e ambiental destes sítios. É
urgente implementar modelos e programas de escala sustentável e ecologicamente
amigos das pessoas e das naturezas.
Sobre
esta problemática vale apena questionar a partir de alguns conceitos como os de
lugar, não-lugar, território, fronteira, limite, globalização, uniformização
dos lugares turísticos. A nossa reflexão aponta para uma simplificação do lugar
turístico, produto de um modelo
hegemónico de fazer programação turística em contextos de elevada sensibilidade
ambiental e cultural. A promoção de lugares e a sua respectiva representação
está condicionada pela comercialização turística, isto é, os turistas visitam,
consomem, e representam paisagens, lugares e culturas que foram elas também
produzidas, apresentadas, e representadas através da dita comercialização do
turismo.
A
relação entre residentes, visitantes e turistas, que participam na construção
das paisagens e dos seus lugares é muito comum nos dias de hoje. Como
consequência, é normal ver discursos recentes sobre turismo, a salientarem a
interação entre turismo, paisagem, representação e estruturas sociais,
experiencias e identidades. Deste modo, torna-se imperativo problematizar a
promoção de destinos turísticos e de lugares turísticos, defendendo uma
abordagem mais critica e histórica. Pois, a promoção de lugares é encarada
quase sempre como uma atividade de marketing dececionante e superficial, embora
multifacetada. Este fenómeno contribui para a produção cultural e consumo de
paisagens, espaços e sítios. É impressionante o impacto negativo que o atual
fenómeno produz nos lugares sujeitos a uma promoção turística e consequente
implantação de equipamentos e infra-estruturas, com outra dimensão e outra
escala.
Uma
primeira aproximação leva-nos a entender que este impacto nos sítios turísticos,
inscreve-se primeiro na organização do espaço, e isso implica em entender de
que maneira as verticalidades operam no conjunto de sub-espaços, e como a
superação das relações horizontais estabelecidas até então, implica uma
reconfiguração espacial e ambiental do lugar. Até que ponto a configuração do
lugar sofre transformações radicais que possivelmente conduzem a uma nova
organização e a uma nova imagem do sitio, mais plástica, mais artificial, mais
temática, isto é, a promoção de lugares, conduz a uma noção de Natureza, em
função do mundo da ficção, do espetáculo, espartilhando-a num estereotipo.
Segundo, Osborne (2000:115) as suas respresentações sugam a matéria histórica
das coisas para as embalsamar em mitos. Como resultado dessa aprendizagem vemos
pois as paisagens, não como artefactos objectivos e fixos, mas como misturas
simbólicas, mutáveis e culturalmente construídas, de representação e forma
física. O que as torna um artefacto susceptivel de ser integrado numa lógica
turística de promoção de lugares, que passa a apresentar o mundo como uma
Imagem, considerando o residente e o turísta como um espectador-viajante
imaginário para um Lugar Imaginado (Morgan,2007:205 e ss.).
Neste
sentido, estamos perante uma conflitualidade em virtude desta relação entre
verticalidades e não-lugares, isto é, os vetores dos espaços dominantes,
denominados verticalidades, produzem desordem nos subespaços em que se instalam
e a ordem que criam é em seu próprio benefício. Lefebvre (1991) também trata do
assunto, quando explica que o espaço dominante, o dos centros de riqueza e
poder, se esforçam por moldar e condicionar os espaços dominados, os das
periferias (os lugares de fora). Reduzindo as resistências e os obstáculos,
através da imagem e do discurso do centro, poderoso nos meios e sedutor na
imagem e no discurso que fabrica a partir do património local (ambiental e
cultural). Este fenómeno é acompanhado por uma erosão acentuada de perda de
identidade local e de autoridade politica porque os instrumentos de gestão e de
decisão deslocam-se para o centro. A formação de novos territórios leva ao
aparecimento de focos de tensão e de resistência, porque acentuou as noções de
limite, de fonteira e margem.
Os
limites geram fronteiras e franjas, zonas nebulosas, de transição, de disputa
de diversos campos de força, onde ordens de lugares diferentes se entrecruzam,
se chocam e produzem imensos ruídos. Aliás, Santos (1993) afirma que a zona de
fronteira é uma zona hibrida, babélica, onde os contactos se pulverizam e se
ordenam segundo micro-hierarquias pouco susceptiveis de globalização.
E assim me tornei a seguidora número um deste blogue! Sê bem vindo à blogosfera, Fernando Matos!
ResponderEliminarBeijocas!
Bom dia Anabela. Obrigada pelas palavras. Bjo too.
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